No canto pensava se a dança era o começo do sexo ou o contrário, se havia espaço ou tudo se fundia, se a música era excesso ou parte faltante, se tendia a se diluir nos outros ou a se condensar, se olhando o corpo da mulher insidiosa do outro lado supunha que o seu próprio corpo também fosse regido pela mesma régua. Mas dança não é régua, dança é desmarginação. Dança é uma presença. Abraçou-a mais ainda, o torso já muito suado, as pernas encaixadas no vão das coxas, a mão deslizando pelas costas. Luzes estroboscópicas, um ventilador ligado que ampliava a sensação de calor, as cortinas abertas, a barraca de cerveja coalhada de gente e a mesa com a parafernália dos DJs da noite, que tocava música caribenha. Alguém pergunta se quero cachaça. Não rejeito. Outro oferece cerveja: bebo direto na garrafa. Ela encosta no ouvido. Diz que dali a pouco iremos trepar. Não está sugerindo, mas ordenando. Tem pressa. Encara e repete: pressa, cada sílaba já enleada nos goles da bebid
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)