Ultimamente tenho pensado sobre isso de dançar agarrado ou então sobre o preço de estacionamentos ou a formação das chuvas no nordeste. Vivemos o quinto ano seguido de seca. O que isso quer dizer? O que isso deveria querer dizer? A gente mora na capital. Na capital não falta água. A gente convive lateralmente com a falta d’água. Essa aridez é apenas vestígio. Todo o restante segue à margem da falta, que é dissimulada. É a dupla falta: do bem e do símbolo que a designa. É um achatamento da experiência e da linguagem, que se contenta com a perfumaria, enquanto a experiência recalca ou disfarça ou transforma a falta num adorno, que continua lá, potencialmente danoso. Penso numa palavra avulsa como seca, qualquer uma, solta na frase, uma palavra-conceito que mais anuncie que explique, que mais confunda que aclare. Mas, isto são exercícios, ensaios de ensaios de quem não pretende sair do lugar, ainda que pareça longe e avançando no tempo. Explicações estão fora de moda
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)