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Mostrando postagens de novembro 29, 2012

Vestido

O vestido é uma peça vulnerável, disse uma amiga, melhor colocar um short, uma calça, hoje quero beber, quero encontrá-lo no fim da linha, da noite, naquela mesa marcada e pedir uma cerveja, melhor duas, depois uma caipirinha, antes uns pastéis, que não bebo de barriga vazia. O vestido, de fato, pensando bem, considerados os prós e também os contras, subtraídos os riscos, levando-se em conta as possibilidades, medidas as circunstâncias, tendo em vista o propósito, conforme a designação espiritual de cada um, sob pena de parecer ridiculamente insistente, o vestido, reparem, é uma peça essencialmente vulnerável, o vento, a mão, a farpa solta na cadeira, o homem tarado, a criança, a amiga. É bem possível que uma infinidade muito grande – redundante - de pessoas conseguisse erguê-lo facilmente, mas nem todos dançariam ao arrepio.
a mulher é uma construção  com buracos demais  vaza Angélica Freitas  

Passinho

Todos os assuntos, mensalão, Júpiter, a amante de Lula – sim, Rosemary é amante de Lula -, tenho absoluto domínio do fato, as revistas, as edições, Curiosity, a escolha do técnico, a demissão do assessor, a formação da mesa diretora da AL, a ficha limpa, a suja, há uma infinidade de temas em torno dos quais manter uma conversa torna-se atividade fácil, simples, basta começar, basta querer, então, mas não querendo não há assunto que possa render, nada. Digo tudo isso pra disfarçar o real assunto, o real interesse, fiz que driblava pra esquerda, fui pra direita, mas ninguém se mexeu, driblei sozinho, nas cadeiras do auditório a plateia acompanhava desinteressadamente o lance ridículo, direita, esquerda, finalmente direita, performance previsível, lenta, patética, então todo mundo ri, o que logo se converte em gargalhada e depois em choro convulso. Caia, tropece, troque as palavras, enrosque-se na própria sombra – é garantia de riso, diversão, gozo alheio para a eternidade. En

Os meses mais quentes

O jeito é assim, deixa contar, fazer cada coisa devagar, lentamente, quase parando, uma velocidade de lesma vencendo ladeiras de Olinda, nunca vi ladeiras tão íngremes quanto as de Olinda, nunca vi Olinda, é verdade, vamos ao ritmo, também cadenciado, como se diz no futebol, um time que joga de maneira cadenciada tem mais posse de bola, trabalha com i nteligência, o que não significa que ganhe sempre, pelo contrário, a inteligência normalmente é sinal de desprestígio, em excesso, então, é sinal de ruína. Ruína, bancarrota, não entendo nada. Enquanto todo mundo na cidade fala do calor, os que não estão falando sobre calor cogitam a possibilidade de, em algum instante vindouro, abordar o tema, frontal ou lateralmente, não interessa, enquanto o mundo inteiro que conheço é monotemático e não dá sinais de que a situação possa melhorar nos próximos meses, que são também os meses mais quentes do ano, o que faço? Comento displicentemente, puxa, senhor porteiro, o maçarico liga

Dentro da noite, dentro do dia

Passa das 23h54, precisamente 23h55, uma hora bem adiantada, muita gente dorme, muita gente mantém-se alerta, dentro do dia, dentro da noite, alerta quer dizer um passo à frente, um atrás, desconfiado de uma maneira saudável, desconfiado de um modo amistoso, sem descrer totalmente, sem crer em absoluto, na medida, consolar-se com a medida exata. O que é a medida exata? Dar voltas, dar voltas, passear, esse rapaz precisa distração, enganar-se um pouco olhando as ondas, o vendedor do coco, o brinquedo colorido que pisca zunindo e depois cai lentamente em rodopios enquanto cá em baixo a meninada e talvez um ou outro adulto espiam calmamente um tempo que parece ficar ali recuado,  um arranjo de plástico sem graça que hipnotiza. Arranjo sem graça. Estou tão sem graça, semana difícil, sumiram com todas as balanças das farmácias da cidade, ainda resta uma, eu sei, fica ao lado da pastelaria mais famosa do centro, por coincidência, peço um pastel e refrigerante e na saída subo