De repente sorriso na esquina da Heráclito Graça com outra rua que não lembro, mas lembro do sorriso e do que o antecedeu, olhando-a na cadeira de rodas, num canto da ampla área de recreação do condomínio de apartamentos antigos, cada morador mais velho que os baobás todos juntos. Era uma senhora, é uma senhora, sobre isso não resta dúvida. Anda na cadeira de rodas, mas estava parada, e sorria esticando o olhar em direção ao outro lado da avenida, imaginei prontamente. Pretende quem sabe tentar alcançar aquele tempo antigo, mocidade, normalistas retornando da escola, namoricos, mãos que se esfregam à sorte dos movimentos, em seguida casamento, filhos, a viuvez repentina, a vida antes e depois do acidente? Todavia pode não ser, não ter sido, nem vir a ser nada daquilo. E fomos em frente, sempre teorizando acerca, sempre conjecturando um mil e um modos para a mulher na cadeira de rodas que fixara no rosto o sorriso e dele não se desgarrava nem por morte ou doença e somente à noss
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)