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Mostrando postagens de abril 25, 2023

Uma rara fineza

  Leio o discurso de Chico Buarque ao receber o Camões e tenho a impressão de que se trata menos de um discurso e mais de um testemunho sem tempo, ancorado no Brasil, mas não apenas este de agora ou de hoje. Um desabafo sem rebuscamento nem jogos adensados, salpicado de uma galhardia muito ao feitio do compositor e escritor. É uma fala que costura descendências: “o meu pai era paulista, meu avô pernambucano”, em linha entre passado e futuro. E assim retroagindo ao imenso Portugal, dando-se conta na caravana transatlântica de que os ramos negro e indígena foram se apagando nessa transmissão filial, numa operação deliberada de branqueamento da qual a violenta constituição do país é tributária. Em terras lusitanas, um Chico meio malandro, meio poeta, pilheriando sobre gravatas e assim deslocando a pauta pela graça da linguagem, refaz os acidentes políticos, as ladeiras e abismos pelos quais a nação rolou abaixo desde 2018. Entre mesuras, o autor recebe a homenagem em nome dos artistas, hu