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Mostrando postagens de junho 13, 2015

Letra

E para minha grande surpresa, lá pelas tantas, o Zambra fala de um trecho da música. Melhor, não fala, cita. E a música diz assim: vou andando pelas ruas, misturando as verdades com mentiras. E continua. Algo do tipo. Ali, no meio da confusão sobre cigarros, parar de fumar, continuar fumando, o prazer da recaída para quem ficou uns bons meses sem tocar no cigarro mas um belo dia então resolve que já é hora e de fato é. Ali, no meio, bem no meio, o narrador, que suspeito ser o próprio Zambra, fala da música, uma música bonita, diz que se sente um pouco assim naquele momento. Então fuma. É uma recaída. Não será a última. Coincidentemente, a música fala de outra coisa, mas outra coisa é sempre uma coisa parecida com a anterior. A gente fala outra mais por fé do que por necessidade. Na prática, a outra é a mesma coisa. O Zambra fala do cigarro e das tentativas frustradas de parar de fumar e da beleza do reencontro com essa outra coisa. É um dos contos de

Receita perdida

  Escutem essa. Um rosto e depois outro. E entre os dois um pouco de tempo, que é como que para untar. Como se untam as formas na hora do bolo. E mesmo assim queima. A gente esquece mais tempo no forno do que o permitido e quando vai olhar se surpreende que tenha passado mais do que os 45 minutos prescritos no rótulo da receita. Mais tempo do que o que seria agradável esquecer. E aí então um rosto e depois o outro ficam grudados, tostados, um no outro fixados à força porque alguém resolveu jogar a receita fora e deixar os dois mais tempo do que o previsto flutuando nesse calor do forno baixo. Até lembrar que já era a hora, alguém resolve esquecer, mas aí já não era mais hora. É a regra de ouro na matemática do esquecimento.