A letra degenera? A minha, sim, a manuscrita, a que sai do encontro da ponta da caneta ou do lápis com a superfície do papel ou de outra qualquer, a que resulta do movimento repetitivo do pulso, que inclina a cada nova curva do alfabeto. Falo dessa letra miúda, dançante, longilínea ou cartesiana: a letra muda. A minha foi degenerando, degenerando, até chegar ao estado atual de garrancho, de coisa única, emaranhado de fios que apenas remotamente guardam alguma semelhança com a letra bonita, quase feminina, da 7ª série. A dúvida é se a falência da letra corresponde a outra, pessoal, moral, estética, ou se uma não tem que ver com a outra, se são domínios separados da experiência, sendo a letra uma ferramenta que se deforma gradualmente sem que possamos fazer nada a respeito. Será assim? É a letra um instrumento de corte que se desgasta naturalmente ao limite da cegueira? É a letra reflexo de uma modalidade de pensamento retilíneo, contínuo, compassado, de palavras que se ju
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)