Pouco mais de dez dias de férias. Distante das redes, sem contato com o noticiário, escuto sons de panela no prédio ao lado. Pauso a série, salto do colchão estirado na sala e corro à varanda. Não preciso estar a par do que acontece para saber que se trata de um protesto contra o presidente, aquele cujo nome já escrevi inúmeras vezes em páginas de jornal e nas redes sociais, um nome que me cansa, exaure. Uma família ocupa a varanda. De longe, adivinho o cômodo sob a luz amarela, duas crianças e dois adultos, o fim da noite. São como uma banda desafinada que ensaia para uma apresentação na gincana da escola. No dia anterior, havia visto rapidamente algo na TV sobre Manaus. Uma tragédia da qual eu passara ao largo até então. A culpa logo vem: enquanto gente morre naquele estado onde um dia um ramo extraviado da família da minha mãe escolheu como lugar para viver, eu deliberadamente tento me desligar do fato de que afundamos cada dia um pouco mais. Tenho me esquivado de tudo desde o f
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)