Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de setembro 13, 2017

Uma criança é uma criança

Uma criança é uma criança e apenas uma criança, então lembrei que aos quatro anos brincava com uma amiga atrás do sofá quando resolvemos tirar a roupa e depois aos cinco olhava minhas tias ficarem nuas no quarto atrás da cortina e aos seis fazia piadas com genitálias e aos sete subi no telhado para espiar minhas primas tomando banho e aos oito fui a um quarto com um amigo e lá ele me disse que queria me beijar mas eu falei pra ele que gostava mesmo era da Maria, empregada da casa da mãe dele, e continuamos amigos, e finalmente aos 9 a moça que trabalhava na minha casa perguntou se eu queria brincar de Romeu e Julieta, eu era criança e só conhecia o Bozo, que já era perversão suficiente pra essa idade mas então eu só achava legal e inocente como uma criança costuma ser.  Então a moça da minha casa explicou o jogo e em seguida brincamos, as regras eram poucas e muito  simples, tudo consistia em me fazer tirar sua blusa e na sequência chupar seus peitos. Isso durou semanas. Aos de

Corpo

A mão segura firme o pescoço, que arqueia junto com as costas, então aceleram e depois voltam ao ritmo de antes, devagar, o mesmo movimento por horas e horas, o tempo consumido assim como não houvesse tempo algum, apenas boca e peitos e pau e buceta, as partes contra partes, a língua dentro novamente e depois fora, em seguida passeia barriga acima e abaixo para voltar a deitar casa nos mamilos, volteios com a ponta, um e outro e mais uma vez o pescoço para tornar aos seios e finalmente afastar-se até as pernas, nas pernas entre as pernas, nas pernas mais que o tempo que levaria para fazer qualquer outra coisa que desejasse muito fazer, nas pernas uma demora, fica, morde, aperta, as mãos agora de novo nos braços e depois costas e uma última vez cumprem esse circuito que aprenderam por repetição a esperar, cabelo, orelha e as cavidades já suficientemente à espera de cada um.  E o tempo, dentro e fora, a passar feito uma matéria concreta, orgânica, uma coisa que podiam segurar com a m

Futuro

Levando ao pé da letra o que escreveu Duras sobre o que escreveria se fosse escrever, imaginei o que escreveria se fosse escrever o que de fato tenho de escrever, ou seja, se me colocasse escrevendo não o escrito, mas a ideia que o antecede, não o projetado nem o que vou anotando num registro maquinal de dedos e teclas enquanto penso sobre o que escreveria se realmente conseguisse escrever o que preciso escrever. Não é um exercício ocioso esse de supor o que seríamos se não fôssemos o que somos, se soubéssemos o que somos, se conhecêssemos o que desejamos ser. 

Na praia

Uma quadra de vôlei, casais dançando, um vendedor, um cachorro. Lembro de dizer que não gosto de cachorro, tampouco de gatos. Lembro de dizer que preciso lembrar de usar bloqueador solar, nessa época do ano os raios estão mais intensos e por isso queimam mais facilmente a pele, que escurece, ganha marcas. Do outro lado turistas param em frente ao letreiro e sorriem enquanto alguém segura no ar acima da cabeça uma máquina também sorrindo. Passo sem as mãos, é um jeito de dizer que me equilibro, que consigo, a bicicleta bambeia numa rajada mais forte de vento, praia suja, olho pra areia e só há detritos, restos esquecidos,  um chapéu que voa sem que ninguém o apanhe. Um chapéu perdido. 

Organismo

Hoje não saio, pensei, hoje fico e digo o que disser. Hoje brigo com o teclado, com a letra, com o número que emperrou, hoje digito e recuo, digito e recuo. A normalidade de escrever agora totalmente perdida apenas porque a tecla exata não funciona mais como antigamente. Um mecanismo tão simples, uma letra com seta apontando que podemos voltar, mas a minha parou, aperto e não responde. Tento consertar. Uso uma serra de unha para abrir o teclado, vejo dentro do teclado e procuro o problema, aparentemente tudo normal não fosse a tecla danificada cujo interior desconheço e por isso mesmo me sinto incapaz de dizer. Se faz isso porque quer, porque precisa, porque tem de ser assim.