Antes de sair de casa, corrigiu a postura e checou o celular, vasculhou a carteira a ver se tinha dinheiro suficiente para bancar as provisões do dia, varreu o apartamento como uma grande angular cartesiana, dispôs cada móvel no lugar não onde estava, mas onde deveria estar, encarou o boneco do Homem de Ferro, confirmou se a luzinha vermelha da tevê estava acesa (estava), se a porta da geladeira fora fechada, se a colcha da cama havia sido feita, se desligara o computador, se a torneira pingava, se carregava caneta, cigarro, isqueiro, mochila, se dentro da mochila havia jornal do dia, papéis, bloco de notas, mais canetas e uma lapiseira, presente quando fez 25 anos. É um procedimento normal, tentou se convencer. Antes de sair de casa, caminhar duzentos metros e acenar para uma das cinco linhas de ônibus que o levará até o trabalho, onde o esperam um computador, uma cadeira, um copo e um telefone, é procedimento padrão certificar-se de que tudo que havia empilhado continuava como
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)