Não sei quantas vezes os médicos erram por dia no diagnóstico do sexo dos bebês, mas suponho que não sejam tantas. Imagino que, entre fluidos placentários e outras substâncias misteriosas que orbitam o fiapo de gente em formação, haja mil razões para errar e nenhuma para acertar. Que os fetos, encaracolados na bolsa uterina como caramujos nas conchas, não colaborem, cruzando as pernas como charmosas modelos posando para revistas de moda. Imagino também que a escuridão primordial dentro da barriga da mãe seja um fator impeditivo da acuidade visual da genitália. Na minha cabeça, determinar o sexo dos bebês é mais ou menos como determinar o dos anjos: uma atividade esotérica, mais para o jogo de azar do que para o rigor da medicina, regida por leis que contrariam o bom-senso, a racionalidade e, eventualmente, a paciência de pais e mães. Acontece que, munidos da alta tecnologia, equipados do saber acadêmico, vacinados com as doses necessárias de desconfiança que a ciência lhes aplicou e a
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)