Começo a inventar distrações domésticas, como contar os feijões e os caroços de arroz. Primeiro apenas de dois em dois, depois de três em três e assim por diante, até que finalmente toda a despensa está etiquetada por data e número de grãos em ordem decrescente, tudo separado e organizado por cor e data de validade. Obviamente há formas mais interessantes de matar o tempo em tempos de quarentena, mas talvez nenhuma tão eficiente no seu propósito de prolongar ao máximo uma atividade ao fim da qual será outra semana, talvez outro mês, quem sabe outra vida – uma semana, um mês e uma vida na qual não haja pandemia e todos estejamos enfurnados em casa. Outra hipótese é a de reparar melhor no traçado do piso de casa, enganosamente simétrico, com hexágonos intercalados à perfeição, mas irregular, aqui e ali sobrando um espaço onde o pedreiro certamente precisou encaixar uma peça que faltava e para a qual não havia resposta prevista. Assim como a pintura da parede do apartament
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)