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Mostrando postagens de março 17, 2020

Diário da quarentena

Que fazer na quarentena? A dúvida incomodava, não apenas porque escancarava a condição privilegiada de quem se permite elencar atividades e distrações num momento de pandemia, mas também porque de fato carregava um sentido honesto: que fazer? Eu não sabia. Apesar das dificuldades, e cansado de ler jornais e ver TV com imagens de italianos bonachões manejando acordeons de suas casas instaladas em paisagens do século XVI enquanto bebericam vinho, tentei puxar um coro de Raça Negra na varanda de casa. Ninguém respondeu, exceto um gato no telhado da casa ao lado, que miou de volta, como se compadecido ante o esforço de criar uma sociabilidade no meio desse quadro de excepcionalidade a que o vírus empurrou a todos, impondo a distância como regra de convívio e fazendo do mundo um grande programa de fim de semana de adolescentes com dificuldade de relacionamento.   Eu estava cansado, portanto, irritado e cansado. Irritado, cansado e profundamente desconfiado diante de tudo que