Foi só depois de escutar Modern love pela 50ª vez que percebi que o que estava fazendo não era exatamente a coisa certa e que afinal a repetição, ao contrário do que todos dizem, não leva à perfeição, mas a uma lenta e garantida agonia, e que no fim do túnel o que nos espera é no máximo um bilheteiro de cinema dizendo com um sorrisinho engraçado que o filme já começou. E vejam que não se trata do tipo de agonia que a gente sente quando as coisas fugiram ao controle e agora resta somente olhar e esperar, olhar o furacão e esperar que no último segundo os fortes ventos abrandem e as tormentas se acalmem. Não é assim. O tipo de agonia que a gente sente ao escutar Modern love pela 50ª vez é equivalente a sonhar correndo atrás de um ônibus e nunca conseguir fazê-lo parar. Ou sonhar nadando e se afogar. Sonhar atirando e não matar. Sonhar saltando e não pular. Sonhar beijando e não beijar. Sonhar gozando e não gozar. E por aí vai. Impossibilidades, co
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)