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Mostrando postagens de março 13, 2014

But I try

Foi só depois de escutar Modern love pela 50ª vez que percebi que o que estava fazendo não era exatamente a coisa certa e que afinal a repetição, ao contrário do que todos dizem, não leva à perfeição, mas a uma lenta e garantida agonia, e que no fim do túnel o que nos espera é no máximo um bilheteiro de cinema dizendo com um sorrisinho engraçado que o filme já começou. E vejam que não se trata do tipo de agonia que a gente sente quando as coisas fugiram ao controle e agora resta somente olhar e esperar, olhar o furacão e esperar que no último segundo os fortes ventos abrandem e as tormentas se acalmem. Não é assim. O tipo de agonia que a gente sente ao escutar Modern love pela  50ª vez é equivalente a sonhar correndo atrás de um ônibus e nunca conseguir fazê-lo parar. Ou sonhar nadando e se afogar. Sonhar atirando e não matar. Sonhar saltando e não pular. Sonhar beijando e não beijar. Sonhar gozando e não gozar. E por aí vai. Impossibilidades, co

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Comecei da mesma forma que todos começam, porque precisava esquecer. Digo todo mundo, mas na verdade há quem entre nesse jogo querendo lembrar. Esquecer e lembrar nunca foram tão diferentes. Não tanto quanto hoje, quanto agora. No fundo, porém, sabia que trapaceava, que escolhia errado, que enganava. Comecei, mas podia simplesmente ter ficado parado, olhando o mar por horas e horas ou dando voltas no quarteirão, quem sabe escolhendo peças de roupa numa loja ou fingindo interesse numa marca de iogurte no supermercado enquanto a fila do caixa rápido esvaziava. Comecei como todos começam, porque precisava esquecer. Agora, olhando daqui, de um ponto que já não parece nem totalmente seguro nem totalmente ameaçado, dou risada se me perguntam por que esperamos tanto tempo. Afinal, esquecer e lembrar não são tão diferentes assim. Pelo menos é nisso que gostaria de acreditar numa noite de quarta-feira.