Dez cigarros depois, o texto fica pronto, não era o que pretendia, nunca é, parece saído de alguma oficina mecânica forjada de última hora no canto mais escurinho do cérebro, uma nota informativa do quanto nos afastamos do que cremos ser quando as engrenagens da criação – expressão ridiculamente desgastada, eu sei – se põem em movimento. Trata-se da crônica da crônica da morte anunciada, desde o início da semana tinha essa certeza difusa de que as coisas não seriam fáceis nos próximos sete dias, de modo que tratei imediatamente de assumir a causa. Escrevo para tentar compensar algo, não essa bobagem da mãe ou qualquer outra, mas uma que só vou descobrindo à medida que escrevo. É um pedido de desculpas, caro leitor, desculpa, eu devo desculpas, estou aqui ouvindo música e pensando que talvez fosse tudo diferente em outra cidade, em outra época, em outra vida, a gente começa a escrever e acha que o ponto de partida fatalmente conduzirá ao de chegada, que é o mesmo que esbo
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)