Hoje experimentei escurecer a sala, pus na janela uma cortina que bloqueia boa parte da luminosidade. Quando terminei, me afastei alguns metros, como um pintor que toma distância da parede a ver se ficaram zonas que precisem de retoques. Gosto da meia-luz, e a impressão que tenho agora é de que a sala está de acordo com um clima que tento preservar no dia a dia. Um tipo de ambiente no qual posso sentar a um canto e escrever ou conversar. Há brechas, porém. Aqui e ali, as falhas da cortina se evidenciam, e uma luz coada atravessa o material sintético, de cor entre branco e creme, projetando claridade no cômodo. É pouco, mas suficiente para saber que está lá, percorrendo vagarosa a superfície do anteparo que vaza, como quase tudo. Alterno luz intensa e sombra. De manhã, por exemplo, escrevo banhado pela janela aberta, o sol batendo-se contra o branco da parede. São as primeiras horas do dia, e nelas normalmente estou disposto, quase bem-humorado. O passar do dia vai
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)