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Mostrando postagens de setembro 29, 2020

Pelejar com dunas

Imagine a cena: a equipe do governo encarregada de tanger a duna de volta pro morro. Cedo, os homens chegam ao local, a areia espalhada na pista. Observam, medem com a vista o tamanho do estrago. Carros derrapando ao passar, mulheres se desequilibrando, meninos respirando areia. Fingem desconcerto. E então se põem a mourejar ao sol, devolvendo ao morro o que sabem que, logo, logo, tornará ao canto de sempre, quando terão de voltar e mais uma vez refazer o desfeito. Para isso são pagos. Mas, ao final, sabem que é como deter a água do mar com um rodo ou impedir a passagem do vento com uma sacola. Um empreendimento de Sísifo. Quis ver poesia no fato de que a duna reocupasse o lugar que é seu, a natureza sempre retomando o controle, impondo-se ao construto e toda essa besteirada que escrevemos para compensar a impotência e disfarçar o fato de que, no frigir dos ovos, perdemos muito e sempre. Porque as dunas pelejam, mas estão derrotadas de antemão, não há dúvida de que, cedo ou tarde, o