Eu procurava o tio mesmo quando não o procurava, quando ainda não sabia que poderia encontrá-lo, quando pensava que tinha morrido ou se extraviado. O tio perdido na selva, o tio casado com uma boliviana, o tio pai de uma criança, o tio retornado ao Brasil. O tio era figura sobre quem não se falava, de quem não havia carta, tampouco registro fotográfico. Uma imagem do tio alegre ou carrancudo, uma frase sequer, um bilhete do tio deixado sobre o tampo da mesa ou no fogão da cozinha endereçado à avó. Nada o tio deixou, foi embora assim, como quem se despede brevemente, mas depois muda de ideia e no caminho resolve que pode ir a qualquer lugar que lhe dê vontade. Foi assim o tio, colapsou, o fio cortado da arraia que voa. O tio era uma visagem, diziam, acreditava em fantasma, de repente calava-se e conversava sozinho. Mas digo que é mentira, inventam coisas porque ao tio faltam elementos, ninguém sabe ao certo como era, por isso têm precisão de lhe forrar com essas baboseiras e coisas de
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)