Então porque considerou que era tudo muito metalinguístico, achou que deveria falar do mercado lá fora, a rua, o leite e a reforma na bodega, que agora tinha prateleiras limpas para as frutas e verduras, não mais o arranjo de arame enferrujado, mas gavetas em madeira escura que pareciam mais higiênicas. Tinha de sair pra procurar um lugar. Levou meia hora assistindo TV, outra para decidir levantar da cama, mais alguns minutos calculando se preparava o café em casa ou comia na padaria. Pequenas decisões que incidem sobre o andamento do dia como gotas de chuva num balde d ’ água. Livros empilhados na mesa, James Wood e Milton Hatoum, os dois que agora precisava ler com urgência, um porque falava tão perto de tudo que queria dizer, a coisa mais próxima da vida, e o outro porque o fazia prender a respiração ao imaginar a criança fora do abraço da mãe. Doía, um relato triste e cheio de força. E logo um pensamento estúpido que se intromete: tinha a impressão de que engordara no
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)