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Mostrando postagens de fevereiro 8, 2013

E la nave va

Parabéns, nenhuma ameaça foi encontrada. Nós o mantivemos seguro eliminando 11 ameaças nos últimos 30 dias. Há dois meses, desde que instalei o anti-vírus no computador, tem sido assim. Sempre o mesmo número: 11. E a mesma mensagem de felicitação por supostamente haver eliminado algo que, presume-se, equivalia a uma espécie de terror inominável. Onze ameaças sem rosto. Nós o mantivemos a salvo de um time inteiro de futebol de pequenos problemas. Quando tinha 16 anos e meu número na chamada da sala era 11, jamais passou pela minha cabeça que um dia seria sistematicamente resguardado da mão carcomida do indizível por um programa de computador.  

Matthew Rohrer ii

Um velório para o telefone  Um telefone desconectado queda morto na mesa. O plástico frio. Os furos no receptor como estrelas colapsadas negras. O bocal, incapaz de gemer, de recitar novos poemas, de pedir que alguém traga uma garrafa de vinho. O casal idoso, que jantava, ficou chocado quando o telefone se jogou no chão em vez de tocar novamente, o fio espiral como o rasto de cabelo molhado numa piscina natural, a maneira como que se deita amontoado na mesa, o discador preso entre números. Jamais ligará para o presidente. Jamais ajudará o reencontro de antigos colegas. Não sofrerá o silêncio incômodo de um convite romântico. N unca mais alguém ofegante.  Em muitos sentidos o telefone está aliviado.

Matthew Rohrer

Algum cara disse que Wittgenstein provou que não há pensamento sem linguagem. Wittgenstein nunca viu um passarinho ou um urso. Árvores balançavam no parque e suas copas se encostavam com ternura. Mesmo sendo o mais novo, eu sou o professor! Corvos gritam para mim no telhado e não conseguem pousar. Acordo indistinguível da manhã deslavada. Tudo que sou é pensamento sem linguagem.