Foi logo depois de haver lido um artigo científico sobre escrita espontânea e livre associação de ideias, primeiramente sequer relacionou a manifestação ininterrupta e o encadeamento anárquico das frases, mas em segundos tudo fez sentido, e o emaranhado antes indistinto ganhou corpo reconhecível, era algo mágico, repetia a si mesmo, bebendo em seguida um gole de cerveja, essa sensação produziu uma fagulha de prazer imediato, não a da cerveja, então se sentou mais uma vez e quando tudo parecia finalmente “harmonizado cosmicamente” como sempre desejaram que estivesse, o que viu desenhar-se na parede descascada do banheiro foi um conjunto heterogêneo de entulho produzido durante o tempo em que estavam juntos, cada monte de chorume desafiando a necessidade que tinham um do outro, cada santa, cada aparição miraculosa acenando para um desfecho. O que fariam de agora em diante, não havia dúvida, dependeria do que enxergassem naquela miragem, se milagre ou abismo.