As reações ao fim da Livraria Cultura variaram entre o tom lamentoso e explicitamente afetivo e um contragolpe que acusava visão mais desencantada, cujo horizonte chamava a enxergar na empresa de livros não um santuário, mas um matadouro dos pequenos negócios. É possível que a Cultura tenha sido, ao mesmo tempo, esse céu e esse inferno? Que tenha abrigado as memórias de tanta gente, enquanto colonizava o mercado e se reproduzia de maneira fúngica, condenando casas do ramo como um vírus que se abate sobre um organismo saudável? Livrarias, mesmo as mais acanhadas e escondidas, são sempre lugares na entrada dos quais suspendemos certo modo pragmático de vida, colado ao dia a dia. Nelas andamos a ver se as horas se preenchem de outra maneira, como se à procura de algo que seja pergunta e resposta, que tenha uma chave para questões mal formuladas que carregamos todos. É, nesse sentido, espaço muito assemelhado com igrejas, onde a devoção se expõe – não a uma transcendência divina, mas a e
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)