Depois de um ano e meio de pandemia e das perdas familiares, da morte de um primo, de um amigo, de amigos de amigos ou de parentes que estiveram doentes e por cuja recuperação torci, estou com vacina marcada. Chegou minha vez. Sinto que não posso me expor, mesmo a ida à esquina me parece arriscada agora que tenho data e hora para a imunização contra a peste. É como se não pudesse descuidar, como se o vírus pudesse me encurralar a qualquer vacilo, agarrando-me pelo pescoço quando menos esperar. Talvez pressinta na euforia dos modos e gestos aqueles cuja imunização se avizinha e, qual bicho traiçoeiro, ataque saltando de trás da moita, frustrando a satisfação de estar protegido contra a doença. É meu pessimismo falando, por certo, mas não convém duvidar. Não recordo a última vacina tomada. Lembro de uma agulhada, mas não de vacina mesmo, tipo gripe ou outras. Estava em viagem de trabalho pelo sertão quando me senti mal, tremia dos pés à cabeça, o queixo batia. Sentei numa calçada e só
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)