Comida é ritual, tanto no preparo quanto na alimentação em si, passando por modos de servir e estar à mesa, sozinho ou acompanhado, homem ou mulher. Experimentem, olhem pros lados discretamente. Imaginem um casal à espera, se se sentam um de frente pro outro ou lado a lado. Se conversam ou cada um batuca na tela de celular, se comem alegremente ou se são personagens de um desses quadros de Edward Hopper no qual o humano é irrevogavelmente sozinho. Comer é o contrário de solidão, sobretudo no Brasil, especialmente se falamos de um comer familiar, de mesa grande e farta, típico do nordeste de tradição senhorial, quando evocamos o gesto doméstico da mãe ou da avó ou do pai e do avô ocupando-se numa cozinha repleta de suas gentes, reunidas em festa. Mas comer também é estar só, festejar a si anonimamente, como numa oração que sopramos em rumorejos vagarosos, num movimento de coisas que só dizemos a nós mesmos quando em conversa particular. E tudo se entrega diante da refeiçã
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)