Faltavam quatro minutos pra meia noite quando o caminhão encostou, parando totalmente ao lado do monturo, e dele saltou um homem pequeno, não mais que um 1,60 m, que se pôs a trabalhar, primeiro lentamente, depois num ritmo que sugeria automatismo. Em 20 minutos, retirou, a golpes de pá, todo o lixo acumulado na esquina da avenida. Em seguida, voltou à boleia do caminhão, onde o motorista dormia à sua espera. O homem pequeno cutucou o motorista no braço. O motorista despertou. Parecia acostumado a tirar esses cochilos breves, portanto não houve susto, apenas um leve movimento de pálpebras que pode ser interpretado como equivalente àquela sacudida de corpo que o cachorro promove ao se molhar. Algo para espantar o sono que se avizinhava. O caminhão foi embora. Amanhã, durante todo o dia, a esquina voltará a encher-se de lixo. À meia noite, uma caçamba, não se sabe se a mesma, irá estacionar do lado direito da avenida.
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)