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Mostrando postagens de agosto 1, 2014

Conversa

Como ia tentando dizer, tinha essa vontade de escrever uma carta, todavia cartas estão fora de moda, daí pensei num e-mail, uma postagem simples no Twitter ou uma mensagem de celular assinada “simplesmente eu”. Uma inscrição no braço da carteira que seria lida em três dias, no máximo, ou em três anos, no mínimo. Pensei em outras coisas que agora não posso lembrar. Não me sinto bem esses dias, tédio, cansaço, fome, falta de conversa, falta de coragem, muitas horas diante do computador ainda tentando rabiscar aquele livro de que falei outro dia. Sem sucesso. Não obtive mais sucesso que Napoleão em Waterloo. Sempre me ocupo de barcas furadas, sou o capitão dos projetos  naufragados, o huno das fronteiras porosas. Não, pode acreditar. É menos uma carta que uma prestação de contas semestral.

O melhor

O melhor da cidade não é o melhor porque o melhor é uma categoria que não abarca o melhor. Não sei se vocês entendem. Dou um exemplo: o melhor da cidade é o picolé, eu poderia dizer. E não estaria mentindo porque, juro, acredito que o melhor da cidade é realmente o picolé e não as pessoas ou o que elas possam fazer de suas vidas quando têm tempo sobrando, se preferem um livro ou jogar paciência no computador. A tapioca é outro produto que larga na frente com boa vantagem se imaginarmos que estamos competindo uns com os outros pra saber quem cospe mais longe na gincana do intelecto. A tapioca com café.   Mas não ficaria surpreso se outras pessoas com gostos muito diferentes dos meus dissessem que o melhor da cidade é a ponte velha. Ou o dindim. O barulho de ondas quebrando ( aliás, uma dica para quem gosta de grana é capturar, engarrafar e vender para turistas o barulhinho do mar da cidade. É a melhor chance que terão de se tornarem ricos, morarem no Meireles e depoi

Sem FB

E se as previsões catastróficas se confirmarem e o FB não voltar, como ficam as pessoas? O que teriam a dizer quando não houvesse mais onde nem como comunicar os segredos, nem curtir as postagens, nem os vídeos de bebês, nem as peripécias dos cachorros nem os acidentes ou os braços arrancados por tigres esfomeados? Como ficam as inimizades, o amor, o carinho, o tesão e o gozo? E as demonstrações de nobreza de caráter, todo esse subgênero de comportamentos segundo os quais não basta apenas ser bom, é preciso propagandear? E o flerte virtual? O que fazer com toda essa reserva de afeto acumulada num canto luminoso da alma? Sem contato com a vitamina D do FB, logo apodrecerá, involuindo até o estágio larval.    Não voltando, o FB apagará todas as mensagens trocadas, como se, mesmo ausente, habitasse um universo paralelo e nesse universo paralelo tudo que costumava acontecer no FB permanecesse acontecendo, inclusive quando nada acontece? Ninguém sabe. Não voltando, as

Números

Todos os dias, por algum motivo, nós nos distraímos lendo um livro ou revista ou digitando no computador uma mensagem desesperada quando, por outro motivo igualmente banal, olhamos o relógio de pulso ou o celular e damos de cara com um número que parece querer dizer qualquer coisa além das horas, uma mensagem, um conselho, uma palavra de conforto, a resolução de um enigma de cuja resposta depende não apenas o nosso futuro, mas o futuro inteiro da humanidade. E é aí que a gente se pergunta se as coisas, por serem coisas apenas, não terão mais o que dizer sobre o que não entendemos do que nós mesmos. Não cito exemplos para não estragar a experiência de cada um.