Agora estou tentando me acostumar. Uma das paredes é verde, as demais de uma brancura desconcertante. O vento é mais forte e assobia ao abrir a porta. A rua, ao contrário da outra, é silenciosa de noite e ruidosa de manhã. A garagem da empresa de ônibus e as árvores do parque ficaram pra trás. E as formigas também, embora ninguém tenha saudades delas. Lembro de uma vez. Éramos um grupo de amigos bebendo na praia no final da tarde. De repente anoitece, e algumas meninas vão embora. Eu resolvo ficar. Entro no mar depois de decidir que não estava tão bêbado assim. Estava. Flutuo no mar, não toco o chão com meus pés. A água é morna. Estou sozinho, a sensação é agradável, mas também triste. O que acontece se avançar um pouco mar adentro: avanço. Uma onda empurra pra longe. A tontura passa. Meus pés voltam a tocar o chão arenoso do fundo da praia. Uma água-viva se enrosca no meu dedo. Queima. Tenho saudades do supermercado e da vizinhança. Estou cada dia mais longe, mas nunca tão
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)