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Mostrando postagens de julho 16, 2012

Pai

Uma vez surpreendeu a mãe rindo só na cozinha, foi perguntar o que era, a mãe fechou-se, só achando graça das besteiras do teu irmão, menino, o que ele fez, mãe?, nada, deixa pra lá, o pai ainda não tinha chegado do trabalho, era de madrugada, domingo, três da manhã, de repente o sorriso transformou-se em mistério e aquela mulher na cozinha, num completo alienígena, ligou a TV, adormeceu uns minutos depois. O pai não tinha voltado, a mãe agora fazia café.

Mãe

No telefone a mãe fala da viagem, a sobrinha entusiasmada, a tia na menopausa parecia uma arara, a vó detestando tudo que podia, o pai encapsulado na rabugice, o quadro inteiro uma esquete do humorístico Zorra Total , à exceção da própria mãe, mesmo sem querer escondia um segredo qualquer, agonia que viera da juventude, atravessara o casamento e agora saltava como um palhaço no picadeiro naquele hiato incômodo das ligações de fim de semana.

Na fila

Estava decidido, seriam todas escravas, brancas, negras, mulatas, pardas, altas, magras, cheias, fleumáticas, risonhas, cínicas, maledicentes, leitoras, mantidas em calabouço próprio, privado, pessoal, particular, refrigerado, pouca luz, isolado, alimentadas como convém, vestidas com os panos da moda, escravas brancas, pretas, um sortimento variado e duradouro, escravas do sexo, não repetiria escolhas por dois ou três anos, teria as mulheres que quisesse, podia pagar, custasse o que custasse, podia pagar, jovens, muito jovens, maduras, velhas, não haveria segregação, prometeu a si mesmo enquanto a luzinha do caixa rápido do supermercado indicava algum tipo de engodo bem debaixo do seu nariz.

Obsoleto

Há dias não é capaz de acompanhar a velocidade das chamadas das notícias, que desaparecem quando faltam duas ou três palavras, o sentido não se completa, pensa clicar novamente e voltar, regressar ao começo, ao ponto em que fora fisgado, aquele vórtice de apelo e sedução, retornar à origem, à primeira palavra-gatilho, desiste todavia a meio caminho, está conformado com a mensagem mutilada.

Quarta que vem

O cheiro do cloro , de Bastien Vivès (Editora Barba Negra). Uma HQ formidável – desenhos incríveis, narrativa quase sem palavras, feita de silêncios, promessas em suspensão, esperas.

Trecho do discurso de Xodó Xeiroso (Psiu) em debate televisivo recente

Filiado ao Psiu desde a estreia de Avenida Brasil , Xodó Xeiroso é um dos postulantes ao cargo de prefeito da capital cearense. Na imagem, o sorriso estelar do candidato denota claramente o bom desempenho da campanha até aqui e antecipa um pleito alvissareiro (foto: assessoria de imprensa do Psiu) "Como pouca gente fora das redes sociais deve saber, me chamo Xodó e estou candidato a prefeito da capital. Espero contar com o apoio de todos e de todas, incluindo, claro, aqueles segmentos cuja expressão sexual – proclamada ou não – exceda as generalizações elaboradas pelos arautos da assepsia comportamental, não se permitindo reduzir à presunção taxonômica dos ideólogos aparelhados. Afinal, como já professava um famoso sambista carioca, não caber nas desinências nominais que indicam feminilidade e masculinidade, dois conceitos muito caros à sociedade espetacularizada, é, antes de qualquer coisa, um ato moral (portanto, político) de inconformismo léxico, com o qual comungamos desde