Estava decidido, seriam todas escravas, brancas, negras, mulatas, pardas, altas, magras, cheias, fleumáticas, risonhas, cínicas, maledicentes, leitoras, mantidas em calabouço próprio, privado, pessoal, particular, refrigerado, pouca luz, isolado, alimentadas como convém, vestidas com os panos da moda, escravas brancas, pretas, um sortimento variado e duradouro, escravas do sexo, não repetiria escolhas por dois ou três anos, teria as mulheres que quisesse, podia pagar, custasse o que custasse, podia pagar, jovens, muito jovens, maduras, velhas, não haveria segregação, prometeu a si mesmo enquanto a luzinha do caixa rápido do supermercado indicava algum tipo de engodo bem debaixo do seu nariz.
Gosto de como soa atacarejo, de seu poder de instaurar desde o princípio um universo semântico/sintático próprio apenas a partir da ideia fusional que é aglutinar atacado e varejo, ou seja, macro e micro, universal e local, natureza e cultura e toda essa família de dualismos que atormentam o mundo ocidental desde Platão. Nada disso resiste ao atacarejo e sua capacidade de síntese, sua captura do “zeitgeist” não apenas cearense, mas global, numa amostra viva de que pintar sua aldeia é cantar o mundo – ou seria o contrário? Já não sei, perdido que fico diante do sem número de perspectivas e da enormidade contida na ressonância da palavra, que sempre me atraiu desde que a ouvi pela primeira vez, encantado como pirilampo perto da luz, dardejado por flechas de amor – para Barthes a amorosidade é também uma gramática, com suas regras e termos, suas orações subordinadas ou coordenadas, seus termos integrantes ou acessórios e por aí vai. Mas é quase certo que Barthes não conhecesse atacarejo,...
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