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Mostrando postagens de outubro 8, 2021

Bonito de máscara

Há um tipo que se lamenta à medida que as restrições sanitárias vão se afrouxando e por todo canto a vida se impõe como novidade: o bonito de máscara. É categoria nova, criada pela pandemia, que, entre outras mudanças, alterou radicalmente o regime estético nacional, diria global, planetário, mas receio exagerar. De modo que me sinto à vontade apenas pra falar da cidade e, quando muito, do bairro. Aqui, por todo canto veem-se ainda as pessoas usando a máscara, mesmo nas mesas de café e na cantina do supermercado, levantando-a para morder a coxinha ou mergulhar o pão no café, mas logo cobrindo-se de novo. É conduta misteriosa, pensei comigo, eu mesmo relutante entre continuar sob a máscara e me descobrir brevemente enquanto me alimento. A insistência do hábito, suspeito então, não tem relação apenas com cuidados, tampouco com apego desmedido a um acessório que, antes estranho, foi progressivamente incorporado ao dress code de qualquer vivente. Não que o cearense se esmere assim tão mais

Placas de cidade

  Numa viagem gosto sempre desse momento em que se atravessa o portal de boas-vindas, a placa anunciando que, dali em diante, está-se lá, na cidade, que pode ser qualquer uma. Placas dessa natureza não se distinguem, são iguais, mudam-se os nomes, mas a mensagem é a mesma. Talvez por isso tenha simpatia por elas, por essa tentativa algo ingênua de fazer supor que, apenas pelo poder da sugestão, vive-se num clima diferente porque, afinal de contas, estamos a atravessar essa cidade e não outra, então é como se o tempo se suspendesse. E esse contínuo do deslocamento de uma viagem sertão adentro se corta, se interrompe, é feito de pequenas travessias por lugares em tudo iguais, principalmente nas placas. Mas vejam como são bonitas, como carregam poesia nessa cafonice que é desejar que volte sempre, na espera de que o visitante, mal tendo passado, haja construído sobre o vilarejo uma impressão definitiva, marcante, de modo que da cidade sempre se lembrará e, mais que isso, dela sempre terá