Há um tipo que se lamenta à medida que as restrições sanitárias vão se afrouxando e por todo canto a vida se impõe como novidade: o bonito de máscara. É categoria nova, criada pela pandemia, que, entre outras mudanças, alterou radicalmente o regime estético nacional, diria global, planetário, mas receio exagerar. De modo que me sinto à vontade apenas pra falar da cidade e, quando muito, do bairro. Aqui, por todo canto veem-se ainda as pessoas usando a máscara, mesmo nas mesas de café e na cantina do supermercado, levantando-a para morder a coxinha ou mergulhar o pão no café, mas logo cobrindo-se de novo. É conduta misteriosa, pensei comigo, eu mesmo relutante entre continuar sob a máscara e me descobrir brevemente enquanto me alimento. A insistência do hábito, suspeito então, não tem relação apenas com cuidados, tampouco com apego desmedido a um acessório que, antes estranho, foi progressivamente incorporado ao dress code de qualquer vivente. Não que o cearense se esmere assim tão mais
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)