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Mostrando postagens de março 21, 2018

Da chuva sei apenas o cheiro

De pé no centro do quarto olho o fluxo de carros na avenida. Ordenado, unidirecional, reto. Tenho inveja das coisas que já tão cedo vão num caminho certo. Ainda não são oito da manhã. Dormi mal, as vias respiratórias obstruídas, uma névoa encobrindo a vista como se andasse em meio à chuva, o colchão que maltrata as costas. O mundo de novo como três lanças atravessando o corpo. Lembro que fez sol no São José. Crestada toda esperança. Não choverá. Verdade que choveu na madrugada e a água entrou pela janela, molhando roupas e trapos atados em nó? É o que dizem. Não estava acordado e perdi. Da chuva guardei o cheiro tão somente, a sensação de que algo passou enquanto me distraía. Corrente de ar fresco que também é chuva. Fico com essa lembrança. O que não é, mas é como se fosse. O que não basta a ver se bastasse. Deitado ainda, escrevia na cabeça o que escreveria quando levantasse finalmente. Mas, agora que escrevo, tudo é de outro modo, nada como quando olhava essa fresta