Sublinhem-se como derivados naturais da praga chamada “contentamento espiritual” a esterilidade, o conforto, a acomodação, e só quando se sente a aprazia ocupar toda a extensão do continuuum corpo/mente é que se aclara de vez a máxima segundo a qual a dor e a paixão, não precisamente nessa ordem, são peças inextricáveis do processo maior que é a vida. Entendendo-se por vida “a jornada aventurosa do nascimento à morte”, além dos acontecimentos maiores e menores compactados nesse interregno, acontecimentos esses que podem transbordar significado ou, ao contrário, exibir pobreza franciscana. Processo maior que é a vida , murmurou, colocando à prova a seriedade de que se julgava locatário. Era óbvio que evitava franzir a testa em excesso. Temia as marcas da expressão. Todavia, começou a rir até provocar o próprio engasgo e urinar a calça jeans. Que processo? , alguém perguntou de chofre. Ora, que processo! , quis debochar, mas lembrou um caso parecido que lhe ocorrera ano passado.
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)