Não é exagero dizer que a infância de qualquer cearense na periferia de Fortaleza nos idos dos 1990 se aproximou em alguma medida da série Round 6. Não digo que houvesse disputa feroz cujo desfecho era a morte, mas quem brincou de polícia e ladrão, bandeira, pau de fogo e outras estripulias sabe o quanto a sua integridade física estava em risco assim que punha os pés na rua. Que, por si só, já representava um perigo: mal calçamentada, cheia de desníveis, esgoto correndo livre, com pedras expostas nas quais deixávamos uma banda do dedão jogando bola ou parte do joelho depois de cair e esfolar a perna, salgada com mertiolate a gosto do sadismo materno ou paterno. Quantas vezes não levei surra da mãe depois de apanhar numa disputa de bandeira ou de pau de fogo, quando voltava com os pulsos vermelhos das vergastadas que recebia após perder rodadas sucessivas e ficar com o braço dormente e inchado, com marcas que levavam tempo para se apagar. Não era bonito nem saudável, mas era o qu
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)