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Mostrando postagens de outubro 16, 2011

Eu era um lobisomem infantil

Ia falar de um poema que li há uma hora e da infância, duas coisas importantes do domingo que foi ontem e que jamais voltará a ser. Um poema realmente impressionante, lê-lo foi a melhor ação que pude realizar nessa passagem formidável do dia 16 para o 17 de outubro. Agora, está ali, parado, fechado, faz outros livros de cama, um mistério para mim, um mistério para o autor, um mistério para quem o ler e para quem não o ler. A infância foi assunto hegemônico hoje na mesa de almoço da família, as casas, rostos, as ruas, as pessoas, Tânia ainda mora lá?, Erica apanhava tanto, o pai da menina morreu, era alcóolatra, a Lígia era uma professora chata de português, Rosângela traía o marido?, não sei, disse, mas ele também a traía?, perguntou minha mãe repentinamente interessada, na bodega do Sandoval roubávamos bombons, pedíamos três e acabávamos levando dez, um louco metia medo em qualquer pessoa que se aproximasse dele. Havia os cachorros, Leão, um pé duro enorme, Help, o cachorro pre

Cúmulo da noite

Ontem foi um dia especial, embora domingo, embora cheirasse a segunda-feira a partir do meio-dia, as horas cumulosamente arrastando-se uma ao encontro da outra, eu nesse meio-dia sem medo algum de que as coisas pudessem dar errado, afinal as coisas dão errado quer queira quer não, de modo que não convém preocupar-se excessivamente com coisas autônomas, tais como estrelas, espaço, música, abismos, doenças, morte. Tais como amor, o amor. Amanhã, que é hoje, posso acordar tarde se quiser, e de fato até quero, mas talvez o melhor para mim neste momento específico da vida humana em pleno começo de uma nova década em um novo século repleto de gênios ricaços, o melhor talvez seja continuar vendo o Crazy Horse tocar na TV enquanto a noite no terreno baldio cobre plantas e sacos de lixo amarrados com um nó bem dado e adiar o quanto for possível a pretensão de disciplina. Ontem mesmo disse pra ela, acho que minha vida precisa de um pouco de disciplina, todo esse tempo, todas as horas livres,

Um domingo

Um domingo, ele é feito do quê?, quis saber a menina, antes ativamente entretida com o DVD do Patati Patatá, mas agora dominada por uma curiosidade que se confundia com teimosia e até com o mais agudo – e gratuito – desejo de implicar. Com tudo, com todos. Um domingo, tentou explicar como se consultasse na internet a definição da palavra. Um domingo é um dia como outro qualquer, respondeu ao cabo de dez segundos, e a menina não pareceu muito satisfeita com tamanhas falta de originalidade e preguiça. Podia mesmo ter se chateado. No seu canto, porém, fez que se contentava, que era uma maneira de tentar enganar o restante da casa, a saber, mãe, pai, tio e tia, avô, avó e bisavó. Tinha caroço nesse angu, vaticinaram os adultos reunidos ao redor da mesa retangular da sala de estar. Subitamente sensibilizados, convocaram uma ligeira assembleia para analisar o status quo doméstico e, mais especificamente, o estado das coisas mais íntimas que se sucediam naquele mundinho infantil ond