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Mostrando postagens de março 3, 2020

Sem defeitos

Em que momento a gente passou a dizer que fulano ou fulana é “sem defeitos” em tom elogioso, ainda que de brincadeira, mas de partida anunciando essa pretensão de perfeição, de surpreender noutra pessoa não um equilíbrio mal-assentado, e sim uma projeção edulcorada e politicamente correta de justeza de caráter e infalibilidade? Desculpem a frase longa, mas é isso. Sem defeitos, que é o mesmo de isento de qualquer mácula ou mancha moral, tão reto e firme de espírito como se suas convicções houvessem passado por duas lavagens com sabão em pó e depois fossem estendidas na varanda para secar. Porque é disso que estamos falando quando o sicrano se vira e sapeca: mas ele é sem defeitos, admitindo-se aí toda a carga de exagero e licença poética que a fala carrega. Ora, se a gente sabe de antemão que ninguém é uma tábua, por que cargas d’água a expressão sem defeitos, que leva em si uma penca deles, se converteu num chavão lacrador de rede social e senha para autorizar a canonização