Foi só depois que um amigo se despediu falando “seja luz” que eu me perguntei se estava sendo luz o suficiente, ou seja, se estava iluminando as pessoas do meu convívio feito um desses postes da avenida Perimetral que esbanjam um halo amarelado sobre as vastas porções de terrenos baldios. Ou se, pelo contrário, eu era uma lâmpada queimada ou funcionando precariamente que deixava os outros às escuras, projetando sombras contra as paredes como aqueles enfurnados na caverna platônica. Então entendi que temos hoje como que uma fixação por luminosidade e transparência, duas coisas que parecem positivas à primeira vista e muito bonitas de serem ditas, mas são no fim das contas coercitivas. Isso mesmo. A exigência de que sejamos “luz” o tempo inteiro embute o desejo de banhar cada pedaço do corpo e do juízo, devassando os espaços de intimidade e afastando a obscuridade. O escuro é o confuso e o não-conhecido. Por trás dessa mania, eu desconfio de que exista um desejo de domínio do
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)