Há duas semanas li nos jornais da cidade que uma mulher vestida de azul, de aspecto ossudo, com ares de bruxa, uma mulher que poderia facilmente ser minha tia, os olhos igualmente azuis, mas um azul esmaecido, já perto de se apagar por inteiro, essa mulher veio do interior do estado, uma distância imensa, portanto, e, de frente para o mar, mexeu mãos e braços e sacudiu cabelos na tentativa de impedir que fôssemos todos varridos do mapa por uma onda gigante. Somos gratos a essa mulher que não foi paga para nos livrar da morte, do desterro, da abundância nociva da água, mas, pensando bem, por que essa mulher, que mora tão longe, quase noutro estado, por que razão ela resolveu, muito intimamente, que valeria a pena impedir essa onda gigante que chegaria à costa da capital do Ceará apenas em 2013, daqui a bons três meses, em dia, hora e data imprecisos? Não é uma pergunta retórica, apenas gostaria de entender as bobinas que movimentam a cabeça dessa mulher de natureza apar
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)