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Mostrando postagens de maio 26, 2020

Ritual

Era 29 de dezembro de 2018 quando escreveu: “No mar há um instante em que nenhum vento sopra, nenhuma onda quebra, nenhum mergulho se ouve. É essa a paisagem que vejo daqui”. Daqui era o lugar de então, um espaço movediço do qual falava naquele finalzinho de ano em que me recusei a fazer essa custosa operação de olhar em torno e tentar apreender num só movimento o derredor. Foi quando essa imagem se impôs, a do corpo flutuante, suspenso como se sem peso, parado em meio ao cenário de esgotamento numa travessia temporal, a passagem ritualística do calendário se desfolhando na última volta do ponteiro. Atravessei o ano, cruzei-o inteiro e cheguei à outra margem, de onde segui andando até agora, um lugar cheio de falhas e acidentes, mas ainda um lugar. As paredes frias da noite ou o chão amadeirado onde tento adivinhar sinais aleatórios, num esoterismo doméstico. O mar agora é outro, as toneladas de areia e sedimentos jogadas mecanicamente por braços de tratores às vésperas da fes