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Mostrando postagens de janeiro 14, 2023

"The last of us": a série e o jogo

  Voltei a jogar “ The last of us ” (no PS4) como preparação para a série da HBO depois de uma década do lançamento do game para o PS3, no já antediluviano ano de 2013 . Não sei se foi uma decisão razoável, uma vez que inevitavelmente, como fã do jogo, farei comparações entre as produções enquanto assisto, mas era o que tinha vontade de fazer no momento, por dois motivos: estou duplamente de férias (do batente e da faculdade) e minha filha queria conhecer o original. De modo que tenho avançado nos últimos dias em jornadas de uma hora ou pouco mais do que isso, quase sempre depois de leituras mais áridas no processo de escrita acadêmica que tem exigido bastante energia e tempo, quando tudo que queria era apenas abrir uma cerveja e me estirar numa cadeira tomando sol em algum lugar do litoral do Ceará. Sobre a série. Não estou propriamente receoso em relação ao resultado, a cargo de um diretor cujo trabalho mais recente é bem-sucedido (“Chernobyl”) e que ainda conta com o auxílio precio

Dentro da zona de conforto

  Entre os mantras da retórica corporativa, não há talvez expressão mais detestável do que essa que nos pede para “sair de nossa zona de conforto”. Primeiro porque ter uma zona de conforto é, em si, um conforto e um privilégio pelos quais a maior parte de nós trabalha a vida toda, de maneira que abrir mão dela tão facilmente assim, sobretudo quando levou tanto tempo para conquistá-la, não parece algo razoável. O segundo motivo pelo qual essa frase é abominável diz respeito ao fato de que, como consequência lógica disso, nem todo mundo tem uma zona de conforto a que se apegar, na qual permanecer durante o dia e também de noite, às vezes no final de semana, como uma casa de praia num paraíso do litoral cearense.  Para a maioria das pessoas, a única zona que existe é a do desconforto e do risco, ou seja, a da redução de expectativas e de convivência com um grau nada saudável de incerteza em relação ao próprio futuro e ao de sua família. Apenas alguém cuja vida se deu em conforto (material

Patologia e astrologia

  Hoje em dia tudo é patologizado ou astrologizado, ou seja, nada escapa a um ou outro filtro, mas o que quer dizer exatamente isso? Que a patologização é o procedimento por meio do qual a conduta social é reduzida à doença ou explicada integralmente por ela, de modo que o arbítrio do indivíduo se dilua ao ponto de restar somente esse vetor orgânico ou biológico que incide sobre as decisões pessoais. Não é que fulano ou beltrana sejam assim, mas a doença os faz assim. Há um enquadramento patológico diante do qual é preciso compreender o que fizeram. A doença os explica, os justifica e, sob certo ângulo, os redime. Cada vez mais o rol de patologias se imiscui nessas relações cotidianas, ampliando-se progressivamente e abarcando um sem número de situações, das quais mantenho prudentemente certa distância, evitando nomeá-las explicitamente para não parecer que aponto o dedo para ninguém, o que inclui a mim mesmo. Não por acaso, a astrologização talvez tenha de ser encarada (é uma questã