Escrever é às vezes passar horas à procura do que escrever e ao cabo de uma manhã inteira dedicada a batucar vazios concluir entre pesaroso e excitado que a procura foi o que de mais importante aconteceu nessas quatro ou cinco horas. E isso nos leva a conferir à busca o status de tema ou algo equivalente. Moldura de um tema, por exemplo, ou dobra que se enverga sobre si mesma, buraco que se abre e no lugar do objeto/pessoa pelo qual e por quem ansiávamos encontramos, que piada, outro buraco/pessoa. Então a busca corresponde à nova busca, eis uma velha premissa narrativa usada e abusada por desenhos animados e jogos de videogame, histórias fantásticas e boatos do quarteirão. Cada etapa justifica a etapa seguinte e por aí adiante. De repente, nos vemos subindo alguma encosta íngreme ou montanha ou nadando em rios de fogo ou enfrentando gigante com dez chifres ou parando em frente à toca de um animal selvagem precocemente domesticado que já não representa tanto perigo mas diante
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)