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Mostrando postagens de setembro 3, 2017

Esquecimento

Guardei uma frase mas a perdi. Acontece com frequência, lembrar e perder, acreditar que a manterei na cabeça até chegar em casa, quando então sentarei e escreverei a partir dela, sobre ela.  Acontece que agora que cheguei tento procurar e não encontro e se me esforço parece ainda mais inútil porque não há um vestígio, uma nesga do que teria sido se ainda estivesse aqui. Um título? Uma frase inteira?  Um verbo apenas? Não sei. Apenas que tinha a intenção de, a partir dela, sobre ela, em torno dela, começar qualquer coisa que julguei interessante na hora mas que agora me parece apenas inútil. Porque a perdi e se a perdi estava fadada ao esquecimento.  

Um outro exercício

Agora estou na água novamente. Corri um pouco por medo, um pouco por frio.  Tem sempre esse instante em que vista do mar Fortaleza parece a melhor cidade do mundo e talvez seja mesmo, uma ponte ao lado, do outro espigão e na frente o Mincharia, então continuo nesse passo torto do bairrismo meio brega ou do sentimento fácil. Sentimento fácil, repito, e já estou dando umas braçadas, mas no fundo queria mesmo era estar na areia deitado fumando e olhando o céu sem qualquer nuvem, apenas uma mesma tonalidade de azul. A areia cedendo aos poucos e desenhando-se no formato do corpo, que fica ali como uma marca d’água. Solzinho fraco, coado, talvez veja um filme antes de dormir, um terror que me fará querer a mesma vida sempre. Uma menina passa na bicicleta, depois outra, acho que vou deixar o carro molhado e todo sujo de areia, lembro do ar-condicionado do cinema e em seguida planejo não me atrasar tanto para o aniversário da minha sobrinha, organizo a semana mentalmente, segund

Paraquedas

Eu li que se quiser, pode, um jeito carinhoso que inventamos pra falar de uma maneira indireta sobre as coisas que estão fora do nosso alcance, veja se consegue pensar nisso. Formar frases já é algo a que se deva ter o máximo de atenção, imagine tentar provar o que quer que seja, então se quiser, pode. Pode o quê? O desejo sujeito ao querer, disso até gostaria de gostar, ter uma ninharia de simpatia, mas escrevo num domingo agradável, o sol começando a cair, daqui a pouco saio de bicicleta e então encontro o mar e nele o cara que passa com uma caixa de som tocando sucessos do tempo da minha mãe. Se quiser pode, pode se quiser, difícil é querer, mais ainda poder. Fiquei desconfiado, sempre desconfiado. Li um tanto de poesia e passeei pelas redes, nunca o sentimento prazeroso de estar, apenas esses sustos que as fotos e as mensagens causam na gente quando a gente se depara com o outro preparando-se para assumir aquela postura conhecida , é mais ou menos como testemunhar os

Máquina de pinball

A música alta. Dança rodopiando, pensa em ir até o bar mas fica no dilema: se for agora pode perder a música, e tudo que não quer é perder a música, não essa, esperou a noite inteira que tocasse e ela tocou, então quer simplesmente ficar e curtir, dançar um pouco solto, um pouco preso, afinal não se dança nunca sozinho nem totalmente acompanhado. A música para, ele resolve comprar mais cerveja, pergunta ao grupo se mais alguém quer e todos dizem sim, abre espaço entre homens que vão passando a mão no seu corpo como um pedágio e chega até o balcão onde pede quatro cervejas. Ele volta. Queria ficar, mas volta. Outra música da noite começa e o salão agora se esgoela cantando uma versão em forró de um desses sucessos românticos internacionais, é uma espécie de hino da geração.   Dá goladas na cerveja antes de distribuir, estão todos de olhos fechados cantando para o teto, os dedos das mãos em riste indicando que algo vai acontecer, algo pode acontecer, algo tem de acontecer.