Qual não foi minha surpresa quando vi que a árvore do Benfica começou a ser montada. A seu lado, trabalhadores erguiam os anéis de ferro que, progressivamente, criavam a forma cônica que depois, talvez ainda em setembro ou outubro, será fartamente decorada, daquele modo que todos conhecemos. A árvore é um marcador do tempo, um ícone urbano, como o Mara Hope, o farol e o baobá do Passeio Público, todos esses símbolos que se espicham numa praça ou na rua e fazem lembrar que já estivemos ali outras vezes, noutra época, outras pessoas. Imagino o diálogo silencioso que travam entre si enquanto esta cidade agoniada vai passando, mudando e se espalhando para as margens, mais ou menos como quando exageramos no self-service e o prato abarrotado transborda. É como Fortaleza hoje, um prato-feito espalhando-se além de sua capacidade, as rodelas de tomate caindo pelas tabelas, o feijão debaixo do arroz e a mistura encarapitada sobre esse monte natalino que endireitamos sem jeito em cima
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)