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Mostrando postagens de maio 2, 2013

URGENTE - boletim da madrugada

Provas cabais de que chutar baratas dá azar, essas pessoas resolveram desrespeitar o tirano resiliente e agora precisam correr até os pulmões bombearem ácido de bateria, como diria Tyler Durden. Lembram dele? O cara que enxertava pintos nas sessões de cinema infantil. Sob todos os aspectos, uma lenda viva da cinematografia. Enfim, fica a dica.   Salvo por extrema necessidade, nunca chute uma barata no caminho de volta do trabalho. Por que digo isso? Porque, caso insista em ignorar o conselho de quem já chutou barata no trajeto trabalho-casa e se deu muito mal, coisas muito ruins esperam por você no quarto de madrugada, e não estou falando de fantasmas ou meninas possuídas por entidades diabólicas ou ainda bonecas animadas com poderes telecinéticos. Nada disso. É algo de fato muito ruim, algo que pode facilmente ser classificado como o seu pior pesadelo.   Quando menos esperar, uma barata, igualzinha à que ficou estatelada na calçada do outro lado da rua apenas cin

É teste pra cardíaco, amigo

Fim de férias. É tempo de adaptar o tempo ao trabalho, o trabalho à vida, a vida às necessidades, as necessidades às vontades, as vontades aos desejos, os desejos às energias, as energias às prioridades, as prioridades aos objetivos, os objetivos às metas de longo prazo, as metas de longo prazo às de curto prazo e ambas às de médio prazo, todas as metas à lista de tarefas redigida ainda no começo do ano, o começo do ano ao meio do ano que já se avizinha e este ao restante do ano, que não demora a chegar. Tudo implicando tudo, escolhas modificando escolhas e por aí vai.   Voltar das férias é como regressar de um planeta cujas leis diferem em absoluto das que vigem no restante do universo, pulamos para encolher e nos agachamos para saltar, à sombra faz sol e chove debaixo da cama, é tudo escandalosamente estranho, um universo antinatural, ou seria o nosso universo cotidiano o antinatural e não esse de que voltamos cheios de uma energia bizarra? Bizarra no sentido emp

Clássicos da mocidade

Daqui a pouco, no Cinema em Casa .  

Terrores banais

Estou assustado, mas assustado não é bem a palavra. A palavra talvez seja surpreso, o que, dependendo das circunstâncias, também pode significar assustado. Estou surpreso e assustado com as ficções de Lydia Davis, reunidas num volume charmoso que a Cia. Das Letras acaba de lançar. Tinha lido contos da Lydia em edições da revista piauí .  Fiquei maravilhado com as explosões de sentido provocadas em espaço tão curto mesmo para um conto, com o poder de síntese e a capacidade de traduzir em um punhado de frases, às vezes não mais que dez, sentimentos diversos como amor, solidão e medo, resultando em uma arapuca que nos apanha quase sempre desprevenidos.   Do que trata a escritora norte-americana em Tipos de perturbação ? Situações domésticas, terrores banais, inquietações particulares e universais, portas que não se fecham, mãos que pousam desajeitadas em superfícies frias, moscas, cartas de crianças, as cinzas da mãe, a mãe, a mãe da mãe, a vida conjugal, o marido que vai

O Eldorado

Acima, a bondgirl Ursula Andress procura qualquer coisa, mas só encontra duas conchas.  Eu também poderia ficar um ano distante da internet, uma temporada inteira sem acessar emails ou checar mensagens certamente purificaria a alma, revelaria o cálice dourado, desintoxicaria o espírito, animaria o sujeito a empreender, revelaria finalmente por que estamos aqui, o tracejado do caminho subitamente iluminado como uma saída de incêndio de cinema.   Depois dessa aventura, regressaria para contar como foi tudo, um explorador às avessas, alguém que vai não em direção ao novo mundo, mas ao velho, e constata que, longe dali, das curtidas e links, do bate-papo virtual, tudo permanece igual e que, lá ou cá, o drama é o mesmo, a dificuldade, a mesmíssima. No elevador penso na roça; na roça, no elevador. O Drummond é que sabia das coisas. Não de tudo, apenas de algumas. Agora todo mundo quer tirar algum proveito da vida offline. Não demora e surgem os guias da vida fora da rede,

O que funciona no feriado

Tudo bem, não adianta se enganar. Tentei de todas as maneiras possíveis, fiquei frente a frente com a tela – única maneira de começar a escrever -, caminhei, li, rabisquei, abri as janelas necessárias, cliquei nos links indicados, fechei as abas que não importavam agora, revolvi os sites atrás de notícias relevantes, preparei o ambiente, fumei bem mais que devia, fiz café. E nada disso funcionou.      Rejeitei até o último instante a hipótese sempre sedutora de abordar a dificuldade, um expediente já bastante desgastado pelo uso contínuo – nas artes, mas também na ciência. A impossibilidade é sempre fecunda etc., mas mão interessa agora, nada disso interessa agora. E agora tô aqui, registrando a impossibilidade. 

O Instagram nunca mente

Já me perguntaram muitas vezes se vou viajar. É sempre assim. Afinal, estou de férias, e o que faz uma pessoa de férias? Viaja? Fica em casa? Joga videogame? Alimenta as plantas? Dorme? Toma cerveja? Tranca-se no banheiro com revistas pornográficas? Compra pilhas novas para o controle remoto da TV? Relê Asterios Polyp pela quarta vez? Ajuda as velhinhas a fazer alongamento antes da aula de tai chi chuan no Parque Rio Branco? Não, uma pessoa de férias trata imediatamente de sair de férias, e sair de férias quer dizer viajar, estar em trânsito, fotografar planícies diferentes, ver coisas diferentes, pessoas diferentes, provar sabores diferentes. Viajar é demonstrar empírica e pictoricamente que passou e comeu e viu cada uma das texturas mencionadas. Cada check in valeu a pena, cada luz, cada recorte, cada sorriso. De tão vívidas, as cores parecem mentirosas, mas é tudo de verdade, posso afiançar: o sol se punha exatamente assim, o casal abraçava-se como num filme do Woody Alle

A nossa Higienópolis

Texto publicado na edição do O Povo de 2/5/2013 Um grupo de moradores se organiza e chega à conclusão de que uma linha de ônibus circulando no bairro certamente traria aborrecimentos que talvez fosse prudente evitar, como o afluxo de pessoas estranhas nas ruas. Logo, foi o que imaginaram, não demoraria até que uma cadeia de pequenos negócios se formasse para atender as necessidades do contingente de trabalhadoras domésticas, pintores, seguranças, cozinheiras e babás, e isso também desagradava os moradores, parte dos quais residia em alguns dos mais luxuosos condomínios da região. Estava claro que uma linha despejando forasteiros ameaçava a tranqüilidade e a normalidade. Significaria paradas de ônibus e, nas paradas, não se sabe se à espera dos coletivos ou animados por um ímpeto delinquente, aglomerações alienígenas. À luz amarela dos postes da rua, os nativos do bairro saberiam distinguir quem de fato era a criadagem de hábito e quem era aquele outro tipo de gente que aterroriza os