Estou assustado, mas assustado não é bem a palavra. A palavra talvez seja surpreso, o que, dependendo das circunstâncias, também pode significar assustado.
Estou surpreso e assustado com as ficções
de Lydia Davis, reunidas num volume charmoso que a Cia. Das Letras acaba
de lançar. Tinha lido contos da Lydia em edições da revista piauí. Fiquei maravilhado com as explosões
de sentido provocadas em espaço tão curto mesmo para um conto, com o poder de
síntese e a capacidade de traduzir em um punhado de frases, às vezes não mais
que dez, sentimentos diversos como amor, solidão e medo, resultando em uma arapuca que nos apanha quase sempre desprevenidos.
Do que trata a escritora
norte-americana em Tipos de perturbação? Situações domésticas, terrores banais, inquietações particulares e universais, portas que não se fecham, mãos que pousam desajeitadas em superfícies frias, moscas, cartas de crianças, as cinzas da mãe, a mãe, a mãe da mãe, a vida conjugal, o marido que vai embora, o filho que se aborrece com a nova companhia paterna, o silêncio de uma casa em ruínas, o ruído de decomposição etc.
A matéria é vasta e, em alguns casos, sufocante; noutros, simplesmente hilária. Às vezes é como se a autora oferecesse as duas opções: rir ou chorar. O leitor escolhe.
Talvez a escolha de rir ou chorar seja menos uma concessão do autor do que uma conquista do leitor. Ou uma deformação, dá no mesmo.
Talvez a escolha de rir ou chorar seja menos uma concessão do autor do que uma conquista do leitor. Ou uma deformação, dá no mesmo.