Quero sair em defesa de Jair e do seu direito de caçar palavras, de procurar no vazio da existência algo que a preencha, ainda mais na vacuidade dos dias sem eira nem beira de uma prisão durante a qual mesmo o soluço é um acontecimento digno de nota. Lutar com as palavras entre quatro paredes, adivinhar nas colunas e linhas uma qualquer formação com significado próprio, a isso também se pode chamar de leitura? E nem digo para fins de remição, ou seja, de redução da pena, de progressiva embora lenta e enervante abreviação do tempo do cárcere. Digo, Jair é um leitor como qualquer outro se de repente, entre um calhamaço de Dostoievski e uma brochura com letras embaralhadas, se entre um Machado e um bobbie goods, prefere estes àqueles? Tivessem um grão de inteligência, os filhos de Jair estariam neste momento convocando marchas nas ruas não pelo projeto de anistia ou pela dosimetria, mas por uma ampliação do que se entende como leitura. Seria uma via mais prática para reduzir os anos...
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)