Há por todo o canto da internet um mal terrível que atende pelo nome de “final explicado”, que é, por si mesmo e sem ironia, autoexplicativo. Trata-se do desfecho de uma narrativa ao qual se adicionam muitas camadas de uma explicação qualquer, razoável ou não, relevante ou não, manifestada em qualquer plataforma e orientada pela certeza de que o sentido último de uma obra de arte existe e pode ser alcançado. Da série de TV à novela da Globo, passando pelo filme da Marvel recém-chegado aos cinemas, a mania de explicar abarca tudo, numa pandemia explicativa, com o perdão da redundância. Nenhum mistério lhe opõe resistência, nenhum meandro está a salvo dessa devassa cognitiva à caça de audiência. Para a turma do “final explicado”, explica-se de tudo e tudo é passível de iluminação. Toda a matéria humana é críptica, esquiva, esotérica, não importa se a gente está falando de dragões feitos em CGI ou de uma produção em alemão com viagens no tempo e lances miraculosos de um “doppelganger”.
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)