Uma tarde que passa arrastada, que antecede uma segunda e uma terça e também uma quarta, que é uma antes do fim do dia e outra no começo, que se desfaz lentamente e logo se recupera. Uma tarde assim não custa a passar. Uma tarde assim dura por quanto tempo for necessário. Dez longas tardes passadas em espera. Andar pela casa, recolher roupas, enfiá-las na máquina goela abaixo para que percam as marcas e os cheiros da semana, para que voltem limpas de toda nódoa, para que estejam novamente prontas ao uso, para que se embaracem mais uma vez nesse cheiro que nunca passa. As nódoas, a areia nos bolsos que trazemos da praia, as marcas de elástico das roupas na virilha e pernas, o bronzeado de mangas e golas, os cortes nos dorsos porque não aprendemos ainda a segurar pedras sem deixá-las cair. Os grãos depois no chão do banheiro. O sol que espantamos com água e xampu, cabelos embaralhados como cartas e ombros queimados como se postos para secar no quintal a ver se ganham
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)