Passo horas assim, admirado porque leio
Carver. Todos os seus poemas de um livrinho com composições reunidas por ele
significam tanto o gratuito e banal quanto o extraordinário e cheio de
propósito.
Seja falando
de uma fonte, um regato, um riacho cuja boca se abre e engole a água
anterior. Seja narrando o encontro com uma aeromoça de mãos vistosas que se fixaram em sua
memória, agarrando-a durante um voo sobre Mato Grosso.
Carver escreve sobre um poeta que lia e levava
pra cama. Adormecia segurando seu livro, acordava e ele estava lá. Era o lugar seguro, o sossego, o ponto de partida e chegada, tudo no mesmo lugar. Tenho feito
o mesmo.
Uma vez
lhe perguntaram o que fazer da vida, qual o seu segredo, esse tipo de pergunta
que fazem a poetas que de repente parecem como esses gatos sossegados num canto da sala a observar o movimento de pernas e braços e som desarticulado que sai das nossas bocas.
Ele respondeu: preste atenção.
Não posso imaginar outra maneira de responder a essa pergunta. Preste atenção, preste atenção, preste atenção.
Não posso imaginar outra maneira de responder a essa pergunta. Preste atenção, preste atenção, preste atenção.
E talvez repare que tudo está acontecendo
agora mesmo, neste instante, enquanto bebemos água ou fazemos as unhas ou
preparamos a mala para uma viagem.
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