Seguia pela rua quando dei com o vazio da casa, um espaço antes habitado pela construção agora convertido em lacuna, um tempo passado ao qual eu não conseguia restabelecer materialidade. O objeto faltante carrega consigo também a memória do que foi? O que perdemos quando, do dia para a noite, uma parte da rua é arrebatada, dela não restando vestígio? A casa vazia era um dente extraviado no quarteirão, um molar cuja destinação não se conhecia. Apenas dois ou três dias atrás, lembro de ter passado por ali e percorrido o lugar desse jeito sem critério, um olhar aligeirado que devotamos às paisagens conhecidas, as do corpo e as da cidade. Vamos de rua em rua sem reconhecer-lhes diferença, cada uma acumulando-se, num continuum que forma aquilo que depois chamamos de tecido, mais por falta de palavra melhor do que por outra razão. De tanto vê-la sem ver, tinha me habituado à casa, uma pequena construção, eu agora imagino, cujas paredes azuis ou amarelas e telhado antigo e gasto por chuva e
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)