Nomeio o arquivo. Em seguida começo a escrever. Amar é passar a chamar o impalpável pelo nome. Antes não o conhecíamos, agora é familiar, um rosto, um cheiro, uma certa topografia afetiva, o estranho progressivamente tornando-se mais e mais perto, o longínquo criando braços nesta outra margem. O arquivo é despretensioso. Chama-se “contos”, e nele vou juntando textos escritos nos últimos cinco ou seis ou dez anos, no caso de alguns mais antigos que remontam a outra vida. A maior parte, no entanto, é composta por material recente, dois anos, no máximo. Tenho dificuldade de ir mais longe, então me apego a esse agora escapadiço que tento reter a um custo alto. O custo é ir cavando mais fundo enquanto escrevo, varejando feito mosca um prato de comida ou um bicho solto no pasto. Cavar como minerar. É com isto que escrever se parece em muitos momentos, mediante ferramentas cegas e inadequadas, ir batendo e lascando o metal contra pedras afiadas à procura sabe-se lá de quê, sem q
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)